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M.M. – contadora: de números por formação e de histórias por vocação #1

  • Foto do escritor: Corônicas
    Corônicas
  • 3 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Esse não é um texto sobre saudade. Tem saudades que é daquele abraço apertado onde ninguém precisa dizer nada, tem aquela que além de abraço tem que ter beijo e um nariz no pescoço para sentir o cheiro conhecido de quem a gente gosta, de quem a gente ama. E tem aquela que só passa com tudo isso e muito toque e troca de um corpo no outro. Tem saudades que é do dia a dia, da gentileza, do bom dia, dos sorrisos e dos rostos conhecidos, de uma conversa rápida enquanto saboreia um café, aqueles dois dedinhos de prosa que ajudam a oxigenar os pensamentos e retomar o foco. Tem saudade que é de desordem, de caos, de música ao fundo sendo abafada por falas e risadas altas, ânimos exaltados, embriagados de álcool e de excitação por estar junto. Conversas longas, que não chegam e nem precisam chegar a lugar algum, porque só o que interessa é estar ali, aproveitando o momento. Fazer as malas, pegar uma estrada, voar para longe, conhecer o desconhecido, voltar com histórias e experiências para contar, guardar ou dividir. Escolher ir, vir ou simplesmente ficar, porque também há momentos que nosso próprio acolhimento nos basta. Apreciar os prazeres da solitude, fazendo qualquer coisa que goste ou absolutamente nada. A essa eu chamo de saudade de liberdade, de livre arbítrio, de decidir exatamente o que fazer com suas horas e seus dias. A sensação de que tudo que apreciamos nos foi tirado a fórceps, sem aviso, sem despedida, assim de uma hora para outra, machuca, causa angústia, inquietação, medo e muitos questionamentos. Todos querem respostas para tantas incertezas, mas até o momento ninguém as tem. Como forma de sobrevivência e preservação da saúde mental, tentamos encontrar distrações, buscamos entretenimento e usamos a tecnologia a nosso favor, para aproximar quem está longe. Há dias que esses meios funcionam e conseguimos levar da melhor maneira que conseguimos, em tantos outros apenas esperamos as horas passarem e aguardamos por pelo menos uma boa notícia na nossa bolha de privilégios. Enquanto eu, você e tantos outros nos preocupamos em tudo isso passar logo para voltarmos a vida que chamávamos de normal, há diversos trabalhadores na linha de frente, sem escolha saindo de casa todos os dias, sem saber se chegará no dia seguinte sem ter sido contaminado. Há pessoas sem atendimento médico para essa e outras enfermidades, pessoas morrendo sem diagnóstico, familiares que não conseguem se despedir dos seus entes queridos, outros tantos perdendo empregos ou sofrendo cortes em seu salário. E diante de tantos infortúnios, as informações que chegam ao nosso conhecimento, são quase tão assustadoras quanto o próprio vírus. Egos inflados e vidas girando ao redor do próprio umbigo, priorizam futilidades, minimizam riscos e colocam pessoas que não podem se proteger em seus lares, ou sequer tem um, em situação de maior vulnerabilidade. O mundo está carente, mas sua principal carência é de empatia, de respeito e de amor ao próximo, esses foram substituídos por egoísmo, soberba e vaidade às vezes acompanhados de uma dose extra de deboche. Desejos individuais se sobressaindo sobre as necessidades do coletivo, sendo registrados e publicados com a mesma naturalidade de outros tempos. E então beiramos o total descontrole. A saudade que você sente dos seus e da vida antes do distanciamento social, não pode ser mais importante do que vidas sendo salvas. Cada ação conta e suas urgências não devem sobrepor o combate ao inimigo invisível, tampouco aos visíveis que auxiliam na disseminação do primeiro. Nem antes, nem agora, nem nunca. Se puder fique em casa, se não puder, proteja-se. Mas acima de tudo pense no próximo. Um dia a gente se encontra.

 
 
 

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